Do descarte à inovação: o potencial da moda goiana para unir economia e sustentabilidade

Goiânia desponta como um verdadeiro polo têxtil, não apenas no Estado, mas em todo o Brasil. Em regiões como a da Rua 44, a cidade abriga mais de 2 mil indústrias formais – um cenário que reafirma sua importância econômica e estratégica para o setor. Essa concentração industrial impulsiona a cadeia produtiva da moda, fazendo da capital goiana um celeiro de inovação e criatividade. Contudo, essa atividade intensa também gera uma quantidade expressiva de resíduos têxteis, que, à primeira vista, podem parecer apenas “lixo”, mas que, se abordados estrategicamente, se transformam em oportunidades que aliam economia e sustentabilidade.

Um estudo de viabilidade realizado entre maio e julho de 2023 pelo Sebrae mapeou 2.003 indústrias têxteis e de confecções distribuídas por sete regiões administrativas da cidade. Essa pesquisa teve como objetivos específicos: identificar e mapear as empresas, levantar quantitativamente e qualitativamente os resíduos gerados, analisar os processos de reaproveitamento e tratamento dos resíduos sólidos, bem como avaliar a viabilidade econômica para reciclagem ou reutilização desses materiais. Além disso, buscou-se mensurar os ganhos – tanto econômicos quanto ambientais – que o município poderia alcançar com o tratamento integral dos resíduos têxteis.

A atividade têxtil, fundamental para o desenvolvimento econômico local, gera, em média, 158 kg de resíduos por empresa por mês. Somando todas as 2.003 indústrias, o volume chega a aproximadamente 3.800 toneladas de resíduos têxteis por ano. Esses materiais descartados, compostos por retalhos de algodão, jeans, malha, poliéster, renda, tricoline e pontas de linhas, refletem a dinâmica e a intensidade da produção. Na pesquisa, 55,4% dos entrevistados destacaram o algodão como o tecido mais utilizado, seguido pelo jeans, com 41,3% das menções – dados que ilustram não só o perfil dos materiais processados, mas também as potencialidades para o reaproveitamento desses resíduos.

A problemática ambiental dos resíduos têxteis é evidente. O descarte inadequado, muitas vezes realizado em aterros sanitários, causa impactos negativos no solo, na água e na qualidade do ar, além de representar um desafio logístico para a gestão urbana. No Brasil, estima-se que, anualmente, sejam geradas cerca de 170 mil toneladas de resíduos têxteis, dos quais apenas 20% são reciclados – o restante, em grande parte, é destinado de forma inadequada. Em Goiânia, a situação se agrava pela dispersão dos resíduos, que muitas vezes não são recolhidos por catadores, devido à destinação específica e ao peso do material, além das dificuldades enfrentadas por esses profissionais na coleta manual.

Diante desse panorama, há um grande potencial econômico e ambiental a ser explorado: o upcycling. Essa técnica de reaproveitamento transforma retalhos e resíduos – que seriam descartados – em novos produtos, agregando valor à matéria-prima e estimulando a economia circular. Em Goiânia, iniciativas já convergem para essa tendência, com empresas que destinam seus resíduos têxteis para a produção de peças exclusivas e para o apoio a artesãos e entidades beneficentes. O reaproveitamento dos retalhos pode gerar uma variedade de produtos, desde acessórios modernos e roupas com cortes ousados até itens decorativos como tapetes, redes, almofadas e colchas. Essa transformação não só diminui o impacto ambiental, mas também abre novas oportunidades de mercado, impulsionando o empreendedorismo e a geração de empregos.

Além disso, o município conta com o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, elaborado em 2016, que, em conformidade com a Lei Federal nº 12.305/2010, determina a responsabilidade das empresas na elaboração de seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS). Essa regulamentação estabelece uma ordem de prioridade – que vai da não geração à redução, reutilização, reciclagem e tratamento – e reforça a necessidade de mudanças de atitudes e práticas sustentáveis no setor produtivo.

No contexto econômico, a viabilidade de reciclar ou reutilizar os resíduos têxteis é ainda mais evidente se considerarmos que, em 2015, o Brasil chegou a importar quase 9 mil toneladas de retalhos, a um custo expressivo, demonstrando a lacuna entre a matéria-prima gerada internamente e o aproveitamento efetivo desses resíduos. A pesquisa realizada em Goiânia mostra que, se fosse possível tratar 100% dos resíduos têxteis, o município poderia reduzir significativamente os custos com destinação em aterros, estimular a criação de novos mercados – como o de fibras recicladas, fios e tecidos sustentáveis – e impulsionar a economia local por meio da geração de empregos em setores relacionados à coleta, triagem e processamento dos materiais.

O tratamento integral dos resíduos têxteis também traz vantagens ambientais inegáveis. Reduzindo a poluição do solo, da água e do ar, essa prática contribui para a conservação dos recursos naturais, diminui o consumo de energia e reduz a emissão de gases de efeito estufa, alinhando-se com as metas de sustentabilidade e combate às mudanças climáticas. Além disso, ao incentivar a economia circular, o poder público demonstra seu compromisso com a preservação ambiental e com o desenvolvimento sustentável da região.

Goiânia não é apenas um polo de produção têxtil de relevância nacional, mas também um espaço repleto de desafios e oportunidades. A intensa atividade na região, exemplificada pela dinâmica de centros como a Rua 44, gera um volume significativo de resíduos – que, se tratados e reaproveitados, podem transformar um problema ambiental em uma chance de inovação e crescimento econômico. A pesquisa revela não apenas os números expressivos – como as 3,8 milhões de kg de resíduos gerados por ano – mas também o potencial transformador de políticas públicas integradas, práticas sustentáveis e a criatividade dos profissionais do setor. A gestão adequada dos resíduos têxteis, por meio do reaproveitamento e da reciclagem, pode ser o caminho para um futuro no qual a economia e o meio ambiente caminhem juntos, promovendo benefícios para toda a sociedade.

Neste cenário desafiador e repleto de oportunidades, surge o Circula.Roupas, um projeto inovador que atua como ponte entre o setor empresarial e a sustentabilidade. Ao integrar gestão de resíduos, economia circular e empreendedorismo social, o Circula Roupas transforma o descarte em matéria-prima para a criação de produtos exclusivos e inovadores. Com ações que vão desde a coleta e triagem dos resíduos até a promoção de palestras, oficinas e capacitações, o projeto fomenta uma cultura de consumo consciente, impulsiona novos mercados e a geração empregos. Assim, ao unir o potencial econômico dos descartes com práticas ambientais responsáveis, o Circula Roupas se posiciona como um agente transformador, pronto para construir um futuro em que a inovação e a sustentabilidade sejam empregadas em benefício de toda a comunidade.

Para ler o estudo completo feito pelo Sebrae Goiás, clique aqui e acesse o PDF.